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5.7.10

Tertúlia o Teatro na Escola

Álvaro Correia, Maria Helena Serôdio, António Silva, Helena Peixinho e Joaquim Paulo Nogueira.

Decorreu no Salão Nobre do Teatro da Trindade, a 24 de Junho, a tertúlia o Teatro na Escola, integrada no programa Arte, Escola, Comunidade, organizado pelo Serviço Educativo e de Animação do Teatro da Trindade/Fundação Inatel.

A tertúlia, “moderada” por Joaquim Paulo Nogueira – Teatro da Trindade, contou com a presença, na mesa, de Álvaro Guerra (Escola Superior de Teatro e Cinema), Maria Helena Serôdio (Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), António Silva (Associação de Professores de Teatro –Educação), Helena Peixinho (Associação Mundo do Espectáculo), Manuel Almeida e Sousa e Fernando Rebelo (Curso Profissional de Teatro da Escola Secundária Passos Manuel) . A tertúlia desenvolveu-se em três diferentes vectores da relação Teatro – Escola.

Maria Helena Serôdio e Álvaro Guerra apresentaram os projectos e cursos desenvolvidos nas duas instituições de ensino superior a que pertencem. Maria Helena Serôdio salientou que o Centro de Estudos de Teatro e a Faculdade de Letras de Lisboa irão proporcionar cursos livres na área dos Estudos de Teatro, que sairão do habitual formalismo académico, podendo ser frequentados por todos os interessados pelo teatro, independentemente das suas habilitações literárias ou grau académico. Álvaro Guerra abordou a tradição em formação na área do teatro-educação que, há muito, se vem desenvolvendo na Escola Superior de Teatro e Cinema, desde os CESE, Cursos do Ensino Superior Especializado, em Teatro e Educação, passando pela licenciatura bietápica em Teatro e Educação, ao actual mestrado em Teatro e Comunidade. Na opinião de Álvaro Guerra, a especialização nesta área é uma mais-valia para todos os formados em teatro, pois permite-lhes adquirir as competências necessárias para desenvolver actividade no campo da educação.

Helena Peixinho centrou-se no trabalho educativo que a Associação Mundo do Espectáculo vem desenvolvendo na zona de Almada. Trata-se de uma abordagem ao teatro-educação que extravasa o formalismo curricular do sistema de ensino, embora, evidentemente, com ele possa cooperar.

António Silva, Manuel Almeida e Sousa e Fernando Rebelo, deram enfoque ao teatro no sistema de ensino (básico e secundário). Os três professores traçaram um quadro muito negativo no que toca ao teatro e expressão dramática, em particular, e à educação artística, em geral, na escola portuguesa. Se é certo que as actividades artísticas sempre foram vistas como secundárias pelo sistema de ensino, é também verdade que a situação se tem agravado nos últimos anos, estando todo o ensino secundário regular sem qualquer opção artística, desde a extinção da Oficina de Artes e da Oficina de Expressão Dramática. A qualidade da Oficina de Teatro do 3º ciclo do ensino básico, nas poucas escolas onde existe, é de qualidade duvidosa continuando a ser leccionada, na generalidade, por professores sem qualquer formação na área do teatro.

O presidente da APROTED referiu, ainda, a situação de extrema precariedade em que passaram a estar os professores de teatro, e demais docentes das áreas artísticas e técnicas, após a aprovação do Decreto – Lei n.º 35/2007, que regulamenta as Ofertas de Escola, com a proibição destes professores leccionarem mais de meio horário (11 horas), disposição que em tudo contraria as anunciadas orientações da política educativa dos últimos Governos socialistas com vista a reduzir o insucesso escolar, particularmente no desejo de fixação de docentes nos Quadros de Escola e no acompanhamento continuado dos alunos ao longo dos vários ciclos de ensino. Referiu, ainda, que não consegue encontrar motivos pedagógicos, de administração escolar, ou mesmo lógicos, para o despacho do Ex-Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, ainda em vigor, que possibilita aos professores das áreas artísticas e técnicas, contratados por Oferta de Escola, que provem estar a desenvolver outra actividade profissional, fora do ensino, um acréscimo de mais sete horas lectivas semanais, podendo leccionar até 18 horas semanais, enquanto os professores especializados que se dedicam exclusivamente ao ensino apenas podem leccionar horários até 11horas.

Segundo António Silva, embora camuflada, continua a existir uma visão elitista e tradicionalista do ensino das artes em Portugal. Na prática, e contrariando a Lei de bases do Sistema Educativo, a Educação Artística continua a não integrar a formação geral dos jovens que frequentam o sistema educativo regular. Só assim se entende que, recentemente, tenha sido criada legislação especial para profissionalizar os docentes das escolas artísticas Soares dos Reis e António Arroio, bem como do ensino especializado da Dança e Música, enquanto os professores profissionalizados em teatro, por esta disciplina artística apenas funcionar no sistema regular de ensino, continuam sujeitos às Ofertas de Escola e a horários de 11 horas.

Segundo o dirigente da APROTED, são professores de teatro os únicos docentes profissionalizados do país que não estão integrados em qualquer Grupo Disciplinar/Recrutamento e limitados a leccionar só 11horas semanais. Numa área tão carente de professores especializados - há centenas de horários “dados” a docentes sem qualquer formação teatral – é uma prova inequívoca do mau aproveitamento dos recursos especializados do país e de ausência da prossecução do interesse público por parte do Ministério da Educação.

A tertúlia alargou, depois, a todos os presentes no Salão Nobre do Teatro da Trindade, na generalidade professores e profissionais da área do teatro, tendo-se continuado a trocar ideias sobre como se poderia melhorar o teatro na escola. Em síntese, tal melhoria terá de passar por um maior investimento por parte do Estado nas áreas da educação e cultura, contrariamente ao que actualmente sucede.

APROTED

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