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13.2.06

TEATRO na EDUCAÇÃO - Firmino Bernardo

Garrett dizia que “o teatro é um excelente meio de civilização, mas não prospera onde não a há”. A primeira parte da frase mostra-nos que o Teatro deveria ter um papel privilegiado nas escolas. A segunda parte mostra-nos por que é que o Ministério da Educação se esquece dele.
Esquecer talvez não seja a palavra certa, até porque será fácil encontrar muitas referências à Expressão Dramática em várias “declarações de intenções” do Ministério. O problema é que as medidas concretas insistem em contradizer as intenções. Por exemplo, o Documento Orientador da Reforma do Ensino Secundário de David Justino, que acabou com a Expressão Dramática no Ensino Secundário Regular, contém frases quase poéticas sobre a importância das artes na Educação.
Acabada a Expressão Dramática no Ensino Secundário, resta-nos a Oficina de Teatro no 3º Ciclo. Para quem não sabe como funciona, nada melhor que fazer um resumo.
No 3º Ciclo, as escolas têm de ter uma disciplina na área artística, que pode ser Dança, Música, Teatro ou “outra qualquer”. A grande maioria das escolas opta por “outra qualquer”. Conheço até uma escola que optou por uma disciplina igual à Educação Visual (que os alunos já têm), mas com outro nome, para o descaramento não ser muito grande.
Felizmente, há escolas com outras opções. Seja como for, a disciplina escolhida é semestral, leccionada uma vez por semana. Para a equipa do Ministério da Educação, é mais do que suficiente. Na cabeça deles, em Dança, aprende-se umas coreografias a partir dos videoclips dos D’ ZRT, em Música, aprende-se a cantar o “Atirei o Pau ao Gato” e em teatro, dá-se uns saltos, veste-se umas fatiotas e debita-se umas frases.
Para as escolas que optam por Oficina de Teatro, como é que o Ministério escolhe os professores? É simples. Escolhe os professores efectivos, de qualquer disciplina, com horário zero ou incompleto. Se tiver feito umas coisitas lá no grupo amador da Casa do Povo, está mais que apto para ser o “ensaiador” dos putos. Procura-se uns exercícios nuns livritos, uns textos para uma récita, umas fatiotas para a festa de Natal e completa-se mais um horário.
Mas, se tiver mesmo que ser, se não houver nenhuma alternativa, contrata-se um professor especializado, só por um ano. Mas, atenção. A escola só pode abrir o concurso depois de pedir autorização ao Sr. Secretário de Estado, que isso da Autonomia é muito bonito, mas é só para o que convém. Claro que o Senhor Secretário de Estado não autoriza o concurso cedo demais, porque é necessário dar a entender que o caso tem de ser estudado à exaustão e, se por acaso os alunos só começarem a ter a disciplina em Novembro, sempre são dois meses de salário que o Estado poupa.
Alguns destes professores contratados até têm uma licenciatura específica para o efeito, com formação teatral e formação pedagógica, são profissionalizados e tudo, os pobrezinhos. Não têm é grupo de docência, senão até se corria o risco de terem um concurso normal e ficarem à frente de quem não tem formação, e isso o Ministério não pode permitir, que o Estado está gordo e na Educação é que é preciso poupar.
Entre 6 a 10 de Março, no Centro Cultural de Belém, decorrerá uma conferência Internacional sobre a Educação Artística, organizada pela UNESCO. Não faltarão as Ministras da Educação e da Cultura, com discursos vagos, mas bonitos, fingindo-se muito interessadas com estas questões. Não faltarão aplausos acríticos. Os mais atentos notarão que elas não fazem ideia do que é a Educação Artística, o que de resto até é coerente com a ignorância noutros campos dos respectivos ministérios.
No fundo, temos os políticos que merecemos. Habituámo-los de tal forma a receber aplausos quando anunciam medidas que nem sentem necessidade de as pôr em prática. Talvez devêssemos mudar de atitude. Da próxima vez que ouvirmos um político anunciar intenções, em vez de aplaudirmos, dizemos em coro: “E está à espera de quê?”.
Firmino Bernardo

1 comentário:

Anónimo disse...

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