1. Temos – comparativamente a 1974 – acesso a um maior número de bens materiais. Em termos de aparência, um jovem português não se distingue de um qualquer outro jovem de outro país da Europa: as roupas são as mesmas, o calçado e todos os outros acessórios que constituem a sua indumentária são os mesmos. Exteriormente, as diferenças são praticamente inexistentes.
De 74 até aos nossos dias tudo se transformou radicalmente entre nós: a massificação do ensino concretizou-se, as universidades floresceram um pouco por todo o país, o fim da censura permitiu que houvesse um significativo incremento da edição de livros, o aparecimento de mais imprensa escrita, mais produções teatrais, mais cinema, mais arte. O próprio progresso e desenvolvimento da rede viária permitiu abater o fosso entre o litoral e o interior e tornou mais fácil a possibilidade de acesso das populações do interior aos bens culturais e da civilização.
De que país falo? Do nosso.
Temos, hoje em dia, um lugar lado a lado com os outros países europeus. Deixámos de ser e estar “orgulhosamente sós”.
É certo que viver na periferia da Europa tem os seus custos, mas a Europa percebeu isso perfeitamente e foi generosa. Nunca, desde 1697, tinha voltado a entrar tanto dinheiro em Portugal. Naquela data, era o ouro que nos chegava do Brasil. Aqui há uns anos foram os euros... E se a História não se repete o mesmo não se poderá dizer em relação à ganância e imbecilidade humanas, essas são as mesmas, não mudam e hão-de repetir-se pelos séculos dos séculos.
Tivemos de facto muito dinheiro, um rio caudaloso que inundou o país. Dinheiro que se destinava basicamente a colocar-nos mais à frente, dinheiro que se destinava basicamente a libertar-nos do atraso estrutural em que nos encontrávamos comparativamente aos outros países europeus. Foi um esforço da Europa, uma forma delicada de pedir ao parente pobre, de maneiras e hábitos rudes, inculto e bronco que o deixasse de ser, que parasse de a envergonhar.
Ora, é sabido que não se passa dinheiro para as mãos de quem se habituou a viver de expedientes. A nossa generosa e, diga-se de passagem, excessivamente centrada em si própria Europa esqueceu-se daquela máxima oriental: “Se vires um pobre com fome à beira de um rio não lhe dês um peixe, dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar.”
Desbarataram-se os fundos europeus. A factura ainda está por pagar. A Europa foi generosa mas vai cobrar com juros...
Adiante.
Temos mais algumas coisas, é certo. Mas será que somos melhores?
De 74 até aos nossos dias tudo se transformou radicalmente entre nós: a massificação do ensino concretizou-se, as universidades floresceram um pouco por todo o país, o fim da censura permitiu que houvesse um significativo incremento da edição de livros, o aparecimento de mais imprensa escrita, mais produções teatrais, mais cinema, mais arte. O próprio progresso e desenvolvimento da rede viária permitiu abater o fosso entre o litoral e o interior e tornou mais fácil a possibilidade de acesso das populações do interior aos bens culturais e da civilização.
De que país falo? Do nosso.
Temos, hoje em dia, um lugar lado a lado com os outros países europeus. Deixámos de ser e estar “orgulhosamente sós”.
É certo que viver na periferia da Europa tem os seus custos, mas a Europa percebeu isso perfeitamente e foi generosa. Nunca, desde 1697, tinha voltado a entrar tanto dinheiro em Portugal. Naquela data, era o ouro que nos chegava do Brasil. Aqui há uns anos foram os euros... E se a História não se repete o mesmo não se poderá dizer em relação à ganância e imbecilidade humanas, essas são as mesmas, não mudam e hão-de repetir-se pelos séculos dos séculos.
Tivemos de facto muito dinheiro, um rio caudaloso que inundou o país. Dinheiro que se destinava basicamente a colocar-nos mais à frente, dinheiro que se destinava basicamente a libertar-nos do atraso estrutural em que nos encontrávamos comparativamente aos outros países europeus. Foi um esforço da Europa, uma forma delicada de pedir ao parente pobre, de maneiras e hábitos rudes, inculto e bronco que o deixasse de ser, que parasse de a envergonhar.
Ora, é sabido que não se passa dinheiro para as mãos de quem se habituou a viver de expedientes. A nossa generosa e, diga-se de passagem, excessivamente centrada em si própria Europa esqueceu-se daquela máxima oriental: “Se vires um pobre com fome à beira de um rio não lhe dês um peixe, dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar.”
Desbarataram-se os fundos europeus. A factura ainda está por pagar. A Europa foi generosa mas vai cobrar com juros...
Adiante.
Temos mais algumas coisas, é certo. Mas será que somos melhores?
2. É de educação e ensino que aqui vimos falar. Do que significa ser. Daquilo que se traduz em homens e mulheres realizados “através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da cidadania” preparados para “uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos”. Parece que falei em seres de outro planeta. Mas não. Estive apenas a citar alguns dos princípios organizativos constantes na lei que (ainda) rege o nosso sistema educativo. É a lei que temos mas que não traduz aquilo que somos.
A Escola que hoje temos afastou-se da órbita desta lei, tomou um rumo desordenado e confuso. Foi sendo reformada ao sabor da alternância política, por impulsos, por paixões, como se fosse um terreno fértil sujeito às excentricidades dos agricultores que dele se apossavam. Quantas mais experiências se iam fazendo menos fértil se tornava o terreno. Os frutos que se iam colhendo não tinham grande qualidade, eram escassos. A Escola – e estou, naturalmente, a falar da Escola Pública – foi perdendo importância e, sobretudo, credibilidade.
Vamos aos factos: em 1992/93, por via da reforma curricular do sistema educativo surge, como que em substituição da anterior disciplina de Teatro – oferta de Escola para o 9º ano, uma disciplina de opção, integrada na componente de formação tecnológica, também oferta de escola, denominada Oficina de Expressão Dramática, que seria ministrada em três blocos: no 10º ano, no 11º ano e no 12º ano. Logo aqui surgiram as primeiras dificuldades:
1. A que alunos se destinava esta oferta? A todos aqueles que estivessem inscritos nos CSPOPE, independentemente do Agrupamento curricular em que se encontrassem. A realidade foi outra. Só aos alunos da área de Humanidades ou de Artes as escolas permitiram o acesso à disciplina, salvo algumas raríssimas excepções em que a mesma foi efectivamente leccionada a alunos de outras áreas.
2. No 10º ano, os alunos dos agrupamentos de Humanidades tinham que frequentar a disciplina de Métodos Quantitativos e dada a carga horária lectiva semanal ficavam impossibilitados, em termos legais, de se inscrever na disciplina de OED, no âmbito da formação tecnológica, uma vez que esta tinha uma carga horária de 6 horas semanais, o que se traduzia por estes alunos terem semanalmente mais 3 horas de aulas do que os seus colegas de outros agrupamentos. Em alguns casos, mediante autorização dos pais, foi possível contornar esta lacuna e efectivar a oferta de OED.
Mais... Quando tudo parecia indicar que o ME finalmente resolvera dar atenção à educação estética e artística e, desse modo, colmatar as sucessivas falências e continuadas faltas verificadas ao longo do percurso escolar de algumas gerações de alunos no âmbito de um verdadeiro e eficaz ensino estético e artístico; quando se pensou que o ME estava efectivamente interessado em seguir à risca o espírito da LBSE de 1986 e quando se começaram a sentir na prática os efeitos, logo se percebeu que quem – alheado da realidade – se dispôs a programar uma disciplina estava a contribuir para algo que parecia ser e, no fundo, não era. Como, aliás, se veio a verificar.
Para justificar a inovação e o desejo de mudança, o ME abriu largamente os cordões à bolsa, equipou as escolas às quais concedeu autorização para oferecer esta disciplina, enviou inspectores que verificaram a existência ou não de condições físicas para que as escolas pudessem oferecer a disciplina, os equipamentos chegaram atempadamente (órgão de luzes, rack, projectores, cabos eléctricos, tripés, aparelhagem sonora), largas centenas de contos foram gastos em equipamentos. Escolas secundárias de Viana do Castelo, Aveiro, Guimarães, Porto, Coimbra, Marinha Grande, Almada, Seixal, Setúbal, Alcochete, Lisboa, Loures, Portalegre, Cascais, Évora, Santo André, Faro, Albufeira, etc. tiveram a disciplina, centenas de alunos experimentaram, no verdadeiro sentido do termo, o contacto com uma disciplina artística, alguns deles descobriram vocações através da frequência de OED.
No entanto, o ritmo da alternância política ia introduzindo experiências. Chegou-se ao ponto de, em 1995, um Ministro encarar a possibilidade de entregar a leccionação da disciplina a licenciados em Educação Física! Isto ao mesmo tempo em que a Universidade de Évora abrira uma Licenciatura em Estudos Teatrais cuja saída, originalmente, se destinava a formar professores para esta área!
Confusos?... Ainda vamos a meio da narrativa. E olhem que a estou a encurtar de propósito e vou omitindo outros episódios não menos dignos de registo.
Depois, veio um período delirante como aquele em que se propõe, na abortada reforma proposta pelo último governo de Guterres, a criação de um curso de artes do espectáculo para o ensino secundário. Aqui, o episódio conclui-se com a saída inesperada de cena de Guterres e tudo acabou por ficar no papel. Ainda bem que aqui o efeito do ‘deus ex machina’ funcionou. Aquele curso era uma aberração, um completo desconhecimento do que era a realidade da nossa escola.
Até que chegamos aos nossos dias: estamos actualmente no primeiro ano de implementação da reforma do sistema curricular do secundário, o 3º ciclo também sofreu alterações no sistema curricular.
Tratemos um de cada vez: no que toca ao ensino secundário, desapareceu de todo a disciplina de OED. Sem qualquer explicação, sem que tenha sido objecto de qualquer avaliação, como num passe de mágica. Foi uma morte anunciada mas ninguém deu por ela, a não ser aqueles que nela investiram mais de uma década de trabalho, esses ficaram a clamar no deserto tomados de uma dúvida: aqueles equipamentos continuarão nas escolas ou será que as escolas os deverão devolver ao ME? Nem seria certo que pensassem em mais nada. Quanto aos licenciados que a Universidade de Évora vai fazendo sair em cada ano o único que nos ocorre sugerir é que tenham o mesmo destino que os equipamentos: depositem-se os licenciados no ME juntamente com os projectores, os órgãos de luzes, etc. São tão obsoletos e desnecessários quanto os equipamentos pagos com o dinheiro dos impostos de quem trabalha.
Quanto ao 3º ciclo, o panorama não é mais animador: existe, de facto, uma opção chamada Teatro que é oferta de Escola – o que significa que não existe em todas as escolas – e que abrange os três anos de duração deste ciclo do nosso sistema de ensino. Mas, atenção! A escola só poderá oferecer esta disciplina se nos seus quadros efectivos de docentes houver alguém que se disponibilize para o fazer. Qual é o perfil do professor que leccionará esta disciplina? Honestamente não vos sei dizer. Digo-vos, porém, que se presta a tudo. Está instaurado o espírito do ensaiador do grupo cénico, voltámos às récitas de curiosos.
A Escola que hoje temos afastou-se da órbita desta lei, tomou um rumo desordenado e confuso. Foi sendo reformada ao sabor da alternância política, por impulsos, por paixões, como se fosse um terreno fértil sujeito às excentricidades dos agricultores que dele se apossavam. Quantas mais experiências se iam fazendo menos fértil se tornava o terreno. Os frutos que se iam colhendo não tinham grande qualidade, eram escassos. A Escola – e estou, naturalmente, a falar da Escola Pública – foi perdendo importância e, sobretudo, credibilidade.
Vamos aos factos: em 1992/93, por via da reforma curricular do sistema educativo surge, como que em substituição da anterior disciplina de Teatro – oferta de Escola para o 9º ano, uma disciplina de opção, integrada na componente de formação tecnológica, também oferta de escola, denominada Oficina de Expressão Dramática, que seria ministrada em três blocos: no 10º ano, no 11º ano e no 12º ano. Logo aqui surgiram as primeiras dificuldades:
1. A que alunos se destinava esta oferta? A todos aqueles que estivessem inscritos nos CSPOPE, independentemente do Agrupamento curricular em que se encontrassem. A realidade foi outra. Só aos alunos da área de Humanidades ou de Artes as escolas permitiram o acesso à disciplina, salvo algumas raríssimas excepções em que a mesma foi efectivamente leccionada a alunos de outras áreas.
2. No 10º ano, os alunos dos agrupamentos de Humanidades tinham que frequentar a disciplina de Métodos Quantitativos e dada a carga horária lectiva semanal ficavam impossibilitados, em termos legais, de se inscrever na disciplina de OED, no âmbito da formação tecnológica, uma vez que esta tinha uma carga horária de 6 horas semanais, o que se traduzia por estes alunos terem semanalmente mais 3 horas de aulas do que os seus colegas de outros agrupamentos. Em alguns casos, mediante autorização dos pais, foi possível contornar esta lacuna e efectivar a oferta de OED.
Mais... Quando tudo parecia indicar que o ME finalmente resolvera dar atenção à educação estética e artística e, desse modo, colmatar as sucessivas falências e continuadas faltas verificadas ao longo do percurso escolar de algumas gerações de alunos no âmbito de um verdadeiro e eficaz ensino estético e artístico; quando se pensou que o ME estava efectivamente interessado em seguir à risca o espírito da LBSE de 1986 e quando se começaram a sentir na prática os efeitos, logo se percebeu que quem – alheado da realidade – se dispôs a programar uma disciplina estava a contribuir para algo que parecia ser e, no fundo, não era. Como, aliás, se veio a verificar.
Para justificar a inovação e o desejo de mudança, o ME abriu largamente os cordões à bolsa, equipou as escolas às quais concedeu autorização para oferecer esta disciplina, enviou inspectores que verificaram a existência ou não de condições físicas para que as escolas pudessem oferecer a disciplina, os equipamentos chegaram atempadamente (órgão de luzes, rack, projectores, cabos eléctricos, tripés, aparelhagem sonora), largas centenas de contos foram gastos em equipamentos. Escolas secundárias de Viana do Castelo, Aveiro, Guimarães, Porto, Coimbra, Marinha Grande, Almada, Seixal, Setúbal, Alcochete, Lisboa, Loures, Portalegre, Cascais, Évora, Santo André, Faro, Albufeira, etc. tiveram a disciplina, centenas de alunos experimentaram, no verdadeiro sentido do termo, o contacto com uma disciplina artística, alguns deles descobriram vocações através da frequência de OED.
No entanto, o ritmo da alternância política ia introduzindo experiências. Chegou-se ao ponto de, em 1995, um Ministro encarar a possibilidade de entregar a leccionação da disciplina a licenciados em Educação Física! Isto ao mesmo tempo em que a Universidade de Évora abrira uma Licenciatura em Estudos Teatrais cuja saída, originalmente, se destinava a formar professores para esta área!
Confusos?... Ainda vamos a meio da narrativa. E olhem que a estou a encurtar de propósito e vou omitindo outros episódios não menos dignos de registo.
Depois, veio um período delirante como aquele em que se propõe, na abortada reforma proposta pelo último governo de Guterres, a criação de um curso de artes do espectáculo para o ensino secundário. Aqui, o episódio conclui-se com a saída inesperada de cena de Guterres e tudo acabou por ficar no papel. Ainda bem que aqui o efeito do ‘deus ex machina’ funcionou. Aquele curso era uma aberração, um completo desconhecimento do que era a realidade da nossa escola.
Até que chegamos aos nossos dias: estamos actualmente no primeiro ano de implementação da reforma do sistema curricular do secundário, o 3º ciclo também sofreu alterações no sistema curricular.
Tratemos um de cada vez: no que toca ao ensino secundário, desapareceu de todo a disciplina de OED. Sem qualquer explicação, sem que tenha sido objecto de qualquer avaliação, como num passe de mágica. Foi uma morte anunciada mas ninguém deu por ela, a não ser aqueles que nela investiram mais de uma década de trabalho, esses ficaram a clamar no deserto tomados de uma dúvida: aqueles equipamentos continuarão nas escolas ou será que as escolas os deverão devolver ao ME? Nem seria certo que pensassem em mais nada. Quanto aos licenciados que a Universidade de Évora vai fazendo sair em cada ano o único que nos ocorre sugerir é que tenham o mesmo destino que os equipamentos: depositem-se os licenciados no ME juntamente com os projectores, os órgãos de luzes, etc. São tão obsoletos e desnecessários quanto os equipamentos pagos com o dinheiro dos impostos de quem trabalha.
Quanto ao 3º ciclo, o panorama não é mais animador: existe, de facto, uma opção chamada Teatro que é oferta de Escola – o que significa que não existe em todas as escolas – e que abrange os três anos de duração deste ciclo do nosso sistema de ensino. Mas, atenção! A escola só poderá oferecer esta disciplina se nos seus quadros efectivos de docentes houver alguém que se disponibilize para o fazer. Qual é o perfil do professor que leccionará esta disciplina? Honestamente não vos sei dizer. Digo-vos, porém, que se presta a tudo. Está instaurado o espírito do ensaiador do grupo cénico, voltámos às récitas de curiosos.
3. Sugeriram-me que fizesse aqui uma comunicação na qual desse conta do que foi a minha experiência de leccionação da disciplina de OED ao longo de mais de uma década.
O estado de desencanto em que me encontro impede-me de partilhar convosco uma experiência que me fez ter uma outra visão da Escola: uma escola equilibrada, moderna, inovadora e criativa.
Nem sequer vos falei do panorama que encontramos no 1º e no 2º ciclos do nosso sistema de ensino. Quanto às expressões artísticas estamos no vazio, no nada absoluto. Elas estão inscritas nos programas – pelo menos a nível do 1º ciclo – mas, entre nós, estabeleceu-se a ideia de que os nossos meninos e meninas hão-de passar quatro anos das suas vidas a aprender a ler, escrever e contar. Tudo o resto são coisas de pouca ou nenhuma importância. Ao menos que eles e elas, todos saíssem desse ciclo de escolaridade possuidores dessas três competências!
Andamos a querer tapar o sol com a peneira e dizemos que sim, que os nossos meninos e meninas que frequentam o sistema de ensino público experimentam o contacto com as expressões artísticas e sabemos que isso não é verdade...
Sinto-me alguém umbilicalmente ligado ao teatro que, por circunstâncias várias, veio parar à Escola e dela fez a sua principal actividade em termos profissionais. Desenvolvi uma ideia de Escola fruto da minha actividade enquanto professor de OED. E, paulatinamente, um ser omnipotente chamado ME foi-me tirando o tapete, foi roubando o colorido à Escola e tornando-a cada vez mais cinzenta. A Escola, tal como a vejo hoje, (e agora fala também o pai...) tornou-se um lugar com pouco interesse. A sala de aula é cada vez mais desinteressante e cada vez menos espaço de descoberta, de experimentação, de criação.
Para onde caminhamos?
Sempre que penso no estado do nosso sistema educativo ocorre-me a imagem de um quadro de Bruegel baseado numa parábola bíblica (Mateus 15:14) sobre o cego que conduz outros cegos: “Deixai-os: são cegos, guias de cegos. Ora se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.”
Registe-se, para terminar, uma nota que não será tão à margem quanto isso: a casa onde Garrett viveu os seus últimos dias encontra-se em vias de demolição. O MC, após pressões, devolve a questão para o IPPAR, este, por seu turno, atira com a coisa para a CMLisboa que, por sua vez, emite uma declaração em que se fala de Pilatos.
Como vêem, as Sagradas Escrituras dão para tudo.
Este é apenas mais um episódio da sensacional novela da vida real de um país chamado Portugal.
Gostaria que o juntassem à vossa reflexão sobre a forma como tudo aquilo que poderia constituir um património cultural, um meio de elevação, é constantemente desvalorizado pelos poderes instítuidos.
Sei, no entanto, aquilo que gostaria que a Escola fosse.
E não é.
Quando o há-de ser? Não sei. E, além disso, quem se importaria em sabê-lo?...
Fernando Rebelo- Abr.05
O estado de desencanto em que me encontro impede-me de partilhar convosco uma experiência que me fez ter uma outra visão da Escola: uma escola equilibrada, moderna, inovadora e criativa.
Nem sequer vos falei do panorama que encontramos no 1º e no 2º ciclos do nosso sistema de ensino. Quanto às expressões artísticas estamos no vazio, no nada absoluto. Elas estão inscritas nos programas – pelo menos a nível do 1º ciclo – mas, entre nós, estabeleceu-se a ideia de que os nossos meninos e meninas hão-de passar quatro anos das suas vidas a aprender a ler, escrever e contar. Tudo o resto são coisas de pouca ou nenhuma importância. Ao menos que eles e elas, todos saíssem desse ciclo de escolaridade possuidores dessas três competências!
Andamos a querer tapar o sol com a peneira e dizemos que sim, que os nossos meninos e meninas que frequentam o sistema de ensino público experimentam o contacto com as expressões artísticas e sabemos que isso não é verdade...
Sinto-me alguém umbilicalmente ligado ao teatro que, por circunstâncias várias, veio parar à Escola e dela fez a sua principal actividade em termos profissionais. Desenvolvi uma ideia de Escola fruto da minha actividade enquanto professor de OED. E, paulatinamente, um ser omnipotente chamado ME foi-me tirando o tapete, foi roubando o colorido à Escola e tornando-a cada vez mais cinzenta. A Escola, tal como a vejo hoje, (e agora fala também o pai...) tornou-se um lugar com pouco interesse. A sala de aula é cada vez mais desinteressante e cada vez menos espaço de descoberta, de experimentação, de criação.
Para onde caminhamos?
Sempre que penso no estado do nosso sistema educativo ocorre-me a imagem de um quadro de Bruegel baseado numa parábola bíblica (Mateus 15:14) sobre o cego que conduz outros cegos: “Deixai-os: são cegos, guias de cegos. Ora se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.”
Registe-se, para terminar, uma nota que não será tão à margem quanto isso: a casa onde Garrett viveu os seus últimos dias encontra-se em vias de demolição. O MC, após pressões, devolve a questão para o IPPAR, este, por seu turno, atira com a coisa para a CMLisboa que, por sua vez, emite uma declaração em que se fala de Pilatos.
Como vêem, as Sagradas Escrituras dão para tudo.
Este é apenas mais um episódio da sensacional novela da vida real de um país chamado Portugal.
Gostaria que o juntassem à vossa reflexão sobre a forma como tudo aquilo que poderia constituir um património cultural, um meio de elevação, é constantemente desvalorizado pelos poderes instítuidos.
Sei, no entanto, aquilo que gostaria que a Escola fosse.
E não é.
Quando o há-de ser? Não sei. E, além disso, quem se importaria em sabê-lo?...
Fernando Rebelo- Abr.05
( Artigo extraído de:)
http://geocities.yahoo.com.br/theatron_associacao/oser
http://geocities.yahoo.com.br/theatron_associacao/oser
2 comentários:
aproted
Para mim teatro pode ser o que eu faço na vida
Na minha vida de loucura
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