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4.1.11

“Srª ministra, o que se está a passar com a Oficina de Teatro do 3º ciclo é uma pouca vergonha!”



“O que se está a passar com a Oficina de Teatro do 3º ciclo é uma pouca vergonha!” Foi nestes termos que o presidente da APROTED “interpelou” a ministra da Educação, Isabel Alçada, no debate que se seguiu à conferência Educação Artística e Sistema de Ensino, que se realizou no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, no passado dia 16 de Dezembro. Manuel Carmelo Rosa, Susana Toscano e Isabel Alçada, foram os conferencistas, sendo moderadora Ana Pereira Caldas, presidente do Clube UNESCO de Educação Artística.

Manuel Carmelo Rosa centrou a sua comunicação na relação intrínseca entre razão e emoção, defendendo a necessidade de um currículo integrado de Arte e Ciência no nosso sistema de ensino. Seguidamente, Susana Toscano referiu que, para a sua geração, a aprendizagem das artes era apenas possível para uma pequena elite, estando o grosso dos jovens impedidos de aceder a qualquer formação, mesmo que generalista, nesta área. Não fazendo propriamente alusão ao sistema de ensino, referiu alguns projectos de qualidade, particularmente na área da música, salientando os benefícios que trazem para a educação dos jovens que neles participam. A ministra da Educação, Isabel Alçada, mais não fez que apresentar, genericamente, o actual panorama das artes no sistema de ensino português, fazendo referência à oferta existente ao nível da educação artística, e do ensino artístico especializado e profissional.

A Professora Lucília Valente, da Universidade de Évora, há muito responsável por cursos superiores na área da formação de docentes para a Educação Artística, iniciou o debate confrontando a ministra com o facto de continuar a não existir uma verdadeira política para a Educação Artística e de muito se falar na necessidade de formar professores para esta área mas não haver medidas concretas para promover essas especializações, bem como para a admissão desses docentes no sistema de ensino. Referiu, ainda, que a solução não passava pela implementação de projectos pontuais e que era, sobretudo, da responsabilidade do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a criação das condições necessárias para que possa existir uma Educação Artística abrangente e de qualidade no nosso sistema de ensino.

Participou também no debate uma professora especializada em Dança, que chamou a atenção para o facto de apesar de esta disciplina existir no currículo do nosso sistema de ensino e de muito se falar na falta de professores qualificados nos domínios artísticos, só conseguir encontrar trabalho em escolas do ensino particular, dando a entender à ministra da Educação que algo está muito mal no recrutamento de professores de Dança nas escolas sob alçada directa do Ministério da Educação.

Seguidamente tomou a palavra o presidente da APROTED, António Silva, que afirmou ter sido o Decreto – Lei nº 35/2007, da autoria do anterior Governo do primeiro-ministro José Sócrates, a debilitar ainda mais o já fraco “edifício” da Educação Artística no nosso Sistema de Ensino, nomeadamente na área do Teatro-Educação, ao impedir a contratação de professores especializados para além de meio horário, 11 horas lectivas semanais, para as áreas artísticas das escolas regulares. Relativamente à Oficina de Teatro do 3º ciclo, disse peremptoriamente à ministra da Educação que o que se estava a passar era uma “pouca vergonha”, sendo a disciplinada leccionada por toda a sorte de professores sem qualquer formação, continuando os professores com formação superior em Teatro, ou mesmo os professores profissionalizados em Teatro-Educação, no desemprego ou sujeitos a horários de 11 horas lectivas.

A última interveniente, tendo como fundamento o seu conhecimento e experiência pessoal, afirmou categoricamente que a Educação Artística no 1º ciclo do ensino básico, apesar de constar no currículo e das muito “propagandeadas” Actividades de Enriquecimento Curricular, efectivamente, não existia no nosso país.

No final, a Sr.ª ministra da Educação respondeu muito genericamente aos intervenientes, não apresentando quaisquer soluções concretas, e deixando antever a quem assistiu à conferência continuar a não existir qualquer ideia alinhavada, por parte dos responsáveis governamentais, sobre como implementar a, há muito prometida, Educação Artística no nosso Sistema de Ensino.


APROTED